Durante muitos anos, eu achei que liderança era uma posição. Um cargo, um título, uma cadeira de gestão. Mas com o tempo – e com os tropeços inevitáveis de quem aprende fazendo – percebi que liderar é, antes de tudo, sobre comportamento, influência e presença. É sobre servir, inspirar e crescer junto com os outros.
Essa consciência não surgiu da noite para o dia. Ela foi sendo moldada pelas minhas experiências profissionais, pelos feedbacks que recebi (e precisei digerir com humildade), pelas equipes que conduzi e pelas decisões que tomei – certas e erradas. Minha jornada como líder começou muito antes de eu entender que era uma. E é sobre isso que quero compartilhar aqui: os principais aprendizados que a liderança me ensinou na prática.
Liderar sem perceber que se está liderando
Meu primeiro contato real com liderança aconteceu de forma informal. Eu ainda não ocupava uma posição de gestão, mas me vi, aos poucos, sendo o ponto de apoio de colegas, assumindo responsabilidades além do meu escopo e ajudando a resolver conflitos ou a tomar decisões em grupo. Na época, eu não chamava isso de liderar — apenas achava que estava “ajudando”.
Mas com o tempo percebi que essa iniciativa natural já era um exercício de liderança. Aliás, muitas das lideranças mais autênticas começam assim: sem cargo, sem crachá diferenciado, apenas com disposição para agir, orientar, ouvir e fazer acontecer.
Essa fase foi essencial porque me mostrou que liderança não nasce com o cargo, ela nasce com o comportamento. E o que você faz, mesmo quando ninguém pediu, pode te posicionar muito mais do que qualquer título.
Os erros que moldaram minha forma de liderar
Não existe liderança sem erro. E, olhando para trás, alguns dos momentos mais dolorosos foram também os mais transformadores. Já tive dificuldades em delegar porque achava que ninguém faria “tão bem quanto eu”. Resultado? Acabei sobrecarregada e, pior, tirando dos outros a chance de crescer.
Também cometi o erro clássico de achar que precisava sempre ter a última palavra. Por medo de parecer frágil ou indecisa, criei barreiras desnecessárias com minha equipe. Até que entendi que liderar não é sobre impor, mas sobre escutar — e, muitas vezes, ceder.
Esses erros foram turning points na minha jornada. Eles me ensinaram que a segurança de um líder não está em controlar tudo, mas em confiar nas pessoas certas, saber pedir ajuda e manter o ego fora da mesa. Um bom líder não é quem tem todas as respostas, mas quem sabe fazer as perguntas certas.
Liderança é desenvolvimento, não controle
Um dos maiores aprendizados que tive é que liderar não é mandar — é desenvolver. Levei um tempo para perceber que quanto mais eu controlava, menos autonomia e protagonismo a equipe tinha. E quanto mais eu confiava, delegava com clareza e incentivava o crescimento individual, melhores eram os resultados coletivos.
Aprendi que pessoas motivadas e reconhecidas entregam mais, e que feedback bem dado é ferramenta de transformação, não de correção. Comecei a entender os ritmos de cada colaborador, a respeitar suas jornadas e a adaptar meu estilo de liderança às necessidades reais do time — e não ao meu próprio padrão.
Descobri o poder do “eu confio em você” e do “como posso te ajudar?”. Pequenas frases, ditas com sinceridade, que transformam o clima de trabalho e constroem relações de confiança.
A liderança que inspira vem do exemplo
Não há liderança eficaz sem coerência. As pessoas não seguem discursos — elas seguem exemplos. E essa foi uma das lições mais difíceis, porque exige uma autovigilância constante. Não dá para cobrar pontualidade sendo a última a chegar, nem exigir empatia se suas respostas são sempre frias e diretas.
Fui percebendo que minhas atitudes — até as mais pequenas — impactavam diretamente a forma como o time se comportava. Um líder que trata as pessoas com respeito gera um ambiente respeitoso. Um líder que ouve, escuta. Um líder que reconhece, inspira. Por isso, passei a cuidar mais da forma como me comunico, da maneira como resolvo conflitos e, principalmente, de como acolho os erros dos outros.
Ser líder é, em muitos aspectos, um exercício diário de autoconsciência. Não é sobre perfeição, mas sobre responsabilidade com o exemplo que você transmite.
Aprendi que liderar também é se vulnerabilizar
Durante muito tempo, achei que liderança exigia postura firme, blindagem emocional e uma certa distância profissional. Achava que expor dúvidas ou inseguranças era sinal de fraqueza. Mas descobri que vulnerabilidade, na verdade, é uma ponte poderosa.
Quando me permiti dizer “não sei”, “errei” ou “preciso de ajuda”, criei espaço para que minha equipe fizesse o mesmo. Isso fortaleceu os laços, humanizou o ambiente e tornou o trabalho mais leve. Ninguém espera um super-herói — as pessoas querem líderes humanos, acessíveis e reais.
A vulnerabilidade não diminui a autoridade; ela fortalece a confiança. Foi quando deixei de tentar parecer forte o tempo todo que me tornei, de fato, mais forte enquanto líder.
Os pilares que carrego até hoje
Com o tempo, minha liderança foi ganhando contornos mais sólidos — mas nunca definitivos. Porque liderar, para mim, é um processo contínuo de aprendizado. Ainda assim, alguns pilares me acompanham até hoje:
Escuta ativa. Aprendi que ouvir de verdade transforma relações. Não ouvir para responder, mas ouvir para entender.
Empatia. Me coloco no lugar do outro antes de reagir ou cobrar. Isso muda completamente o tom da conversa.
Transparência. Faço questão de compartilhar o que posso, dar contextos e ser clara nas expectativas.
Reconhecimento. Pequenos elogios sinceros têm poder. Nunca deixo de dizer “obrigada, você fez a diferença”.
Autenticidade. Liderar do meu jeito, com meus valores, é o que me mantém firme mesmo nos dias difíceis.
Esses pilares não surgiram de um curso ou manual. Eles nasceram da prática, dos tropeços, dos feedbacks e da escuta constante. E é com eles que sigo evoluindo — porque sei que minha liderança nunca estará “pronta”.
Liderança é um caminho, não um destino
Se tem algo que aprendi ao longo da minha trajetória, é que liderança não é um ponto de chegada. É uma estrada longa, com desvios, aprendizados e muitos encontros pelo caminho. Cada pessoa que lideramos nos ensina algo. Cada desafio, cada conflito, cada vitória compartilham lições preciosas.
Hoje, não me considero uma líder perfeita — e sinceramente, nem busco ser. O que busco é ser uma líder melhor do que fui ontem. Uma líder que escuta mais do que fala. Que reconhece antes de criticar. Que caminha junto, mesmo quando precisa apontar a direção.
Liderança é, no fim das contas, um ato de generosidade. É colocar o outro no centro, sem deixar de ser você mesma. É conduzir com coragem, mas também com humildade. E é nessa busca constante que sigo, aprendendo todos os dias a liderar com mais consciência, propósito e humanidade.